Romeu & Julieta - Parte I
Fechei meus olhos por um momento. Tentando me livrar do olhar de Tony sobre mim. Por deus! Será que aquele homem não tem coisa melhor a fazer ou se preocupar?
Porquê ficar encarando sua aluna de 14 anos, durante a amostra de Shakespeare do ensino médio, não é a melhor coisa do mundo.
Abri meus olhos, evitando as duas grandes pupilas de Tony me secando.
E voltei minha atenção ao livro em minhas mãos. "Romeu, Romeu. És tu um Montechio?" -repeti mentalmente.
Tentando entender tais palavras que Julieta usava, enquanto se declarava ridiculamente a Romeu.
Pelo amor de Deus mulher! Você só tem 13 malditos anos na cara e já se declara de unha e carne, a um mero garoto que só quer te comer? E pior de tudo. É um INIMIGO MORTAL de sua família. Repito: INIMIGO MORTAL.
Esse livro deixava minhas idéias se colidindo de tal maneira que me adentrava de alma e mente na história.
E esse era um dos motivos pelo qual eu simplesmente odiava a aula de literatura.
Enquanto a maioria das garotas de minha sala, estavam nas últimas páginas de Romeu e Julieta, se transferindo em menos de uma semana para Hamlet. Eu me via aprisionada em um romance/tragédia, de dois pirralhos, totalmente idiotas e perdidamente apaixonados. Que não enxergavam a realidade de um amor impossível.
Bufei e levantei minha cabeça, olhando em direção a Nadine e suas lágrimas escorrendo, em um tom de preto, pelo simples motivo de sua maquiagem carregada, estar se desfazendo, enquanto Genevive consolava a amiga.
Esse é o efeito que Romeu e Julieta causam em garotas de 14 anos, com os nervos acima da pele.
Tony ainda não deveria ter percebido a reação em cadeia, que isso causou na sala toda.
Menos em Oliver e no time de futebol. Que observavam claramente o decote de Bárbara Moulin, enquanto nitidamente ela se inclinava de um jeito provocador em Tony. Devo dizer; Sr.Young. Olhei para a criatura, que continuava a me encarar, com os olhos semi-cerrados. "O que ele quer de mim?"
Olhe pra sua frente e veja dois grandes, pares de seios. Gay. -pensei.
Fechei meu livro, e o pus dentro de minha mochila. Tentando achar algum espaço dentro daquele meu amontoado de livros. Finalmente consegui. Levantei da arquibancada e caminhei ao lado de uma pequena multidão de meninas. Observando cada barraca.
A primeira de livros a venda, obviamente de Shakespeare. Uma de filmes, outra de cartazes e etc...
Até chegar na pior de todas. Andei lentamente, pondo meus braços, atrás das costas. Mordi meus lábios, sentindo minha respiração acelerar. Enquanto Tony continuava a me encarar.
Droga, passei reto, tentando não ser percebida no meio daquela multidão. Não adiantou.
-Seunome Eva Gordon! Pode dar meia volta! -ouvi a voz de Tony preencher o local-
Revirei meus olhos, sentindo o estômago revirar.
Fiz o que o mesmo disse, e dei meia volta. Fiquei de frente com ele.
Tony fez um sinal para que Barbara saísse. A mesma, soltou um sorriso aconchegante pra mim, antes de se retirar. O que me fez sorrir Instantaneamente. E percebi o time de futebol inteiro caminhar em sua direção. Barbara é assim. Tem roupas de piranha, mas é educada. A não ser que impliquem com ela ou coisa parecida, ela fica maluca. E ninguém diz que ela tem apenas 14 anos.
Ninguém.
Uma nota mental: Pense duas vezes antes de pisar no calo dela. Acordei de meus pensamentos, sendo recebida por estalos de Tony, em uma tentativa boba de me fazer acordar.
Diminui meu sorriso, vendo ele com uma expressão sacana estampada no rosto.
-Pensando no amanhã Gordon? -ele falou, com um ponto de irônia na voz-
-Sim, pensando se amanhã meu professor maníaco de literatura, vai pegar um resfriado daqueles, e faltar pro resto do ano, ou talvez do para sempre. -falei no mesmo tom que ele-
-Não precisa ser rude não Gordon -ele disse, como se estivesse ofendido-
Ofendido? Ele? Acho que não. Tony nunca fica ofendido. Aliás...não. Peraí. Ele realmente nunca se sente ofendido. Erro de cálculo. Ops. E ele continuou.
-Só queria te ajudar, porquê será sobre todas as obras de Shakespeare, que iremos citar esse ano. -ele se levantou da cadeira, ficando de meu tamanho- aliás, a PROVA será sobre o mesmo.
Levantei minha sombrancelha con certa dúvida? Querendo me ajudar? Sério? Esse homem realmente, não para de me surpreender.
-Não, obrigada. Nem em Hamlet eu cheguei ainda. -disse desconfiada-
-Então, pelo que vejo, temos uma atrasada na classe?
-Não. Temos uma realista na classe. -disse convencida-
-E no que a "senhora realista" acredita? -Tony falou fazendo aspas com as mãos-
-Que Romeu e Julieta, são dois jovens idiotas, que acreditam em um amor impossível -disse com uma certa falta de interesse na voz-
-Quer saber de uma coisa Gordo? -ele disse-
Revirei meus olhos e o corrigi.
-É Gordon. -e um tom de impaciência surgiu em minha voz-
-Tanto faz. -ele se aproximou- Você tem tantas coisas que me intrigam. Não chora em romances, não tem interesse em tragédia, mas se envolve na história sem alguma emoção. O que é você? -ele disse duvidoso-
-Alguém. -respondi seca-
-Alguém. -ele repetiu pensativo- Então esse alguém, me diga: Tantas opiniões, sobre tantas coisas, e sempre acha que está certa. O que tem a dizer sobre mim? Diga.
Fechei meus olhos por um instante, sentindo seu perfume, entrar em combustão com meus pulmões.
-Você não quer saber. -disse firme-
-Aposte. Eu quero. Muito.
Tomei fôlego e soltei as palavras.
-Um mal comido, mentiroso, falhido, aproveitador de menininhas, implicante, cheira a cerveja pura, idiota, nojento, imprestável e gay.
E por alguns momentos, eu me sentia leve como pluma, outra nota mental: falar mal na cara das pessoas ajuda. Muito.
-Não pensei que garotas de 14 anos fossem capazes de dizer isso.
Percebi, um certo tom de ofendido em sua voz. Ele que pediu.
-Você pediu. -disse seca-
Respirei fundo e controlei meus pés, que queriam sair dali correndo.
-Diretoria. -ele falou seco-
-Mas...-tentei protestar, mas fui cortada-
-Diretoria. -ele falou com firmeza-
-Droga. -dei meia volta e me dirigi a diretoria-
Viado, não aguenta a verdade. Então porquê pediu?
Caminhava lentamente a diretoria. Caminho que eu conhecia realmente bem. Não apronto. Não faço nada. E ele me manda. Que problema que eu tenho? Aliás, que problema ELE tem? Não sabe aguentar as palavras, não peça por elas. Eu devia ser inteligente o bastante para saber que isso iria acontecer.
Margareth iria me matar. Um péssimo histórico para a adoção. E para muitos pais, eu já estava ficando velha.
No orfanato, a idade que adotam alguém, a escala é dos 8 aos 15. Que droga. Que droga.
Já iria fazer 15, e ainda mais com um histórico desses. Chances acumuladas em 5% Seunome, parabéns. Você conseguiu. Você conseguiu.
Respirei fundo, sentindo o cheiro de chá de erva doce, entrar por minhas narinas. Veja o lado bom: eu chegaria bem na hora do chá da tarde.
Veja o lado ruim: eu odeio chá.
Muitos não gostam de chá aqui onde eu moro.
Porquê primeiro: Eu vivo no Brookllyn.
Segundo: Aqui não é chá. A única bebida aqui é cerveja.
Terceiro: Ninguém aqui tá acostumado com essas coisas. O que nós vemos todo dia é mortes. Ou de amigos, ou de alguém da família. Porquê AQUI, todo mundo, conhece todo mundo.
E quarto: Se você bebe chá, você é metido a riquinho.
Então é assim: ou bebe e é espancado, por um bando de mauricinho do Queens. Ou não bebe, e é espancado por uns mauricinhos do Brookllyn.
Todo dia eu apanho. Vantagens da escola pública. Ninguém Manda em ninguém. Só os mais fortes, ou os que estão em gangues vencem.
Só eles. Por isso ninguém aqui acredita na sorte.
Olhei para as grandes letras em minha frente, escrito: DIRETORIA.
Era agora. Abri a porta e vi a Sra.Madison regando suas plantas. Droga de frio na barriga. Respirei fundo e quando fui dizer alguma coisa pra cortar aquele clima, ela foi mais rápida.
-Entre a feche a porta.
Obedeci, engolindo seco.
-Pensei que não nos veríamos tão cedo. Mas pelo visto. Você me surpreendeu. De novo. Acho que Margareth não ficará nem um pouco feliz com outra ligação. -ela virou a cabeça em minha direção- Não vai?
Fiquei quieta. Ande Seunome, responda. Idiota.
E aí? Gostaram babes?
Sei que demorei pra postar, mas tá aí.
Amo vocês. E obrigada. Por tudo.
Andy ♥
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